Uma nova iniciativa tem como objetivo dar oportunidades e inspirar os jovens do norte e das regiões costeiras do Quénia.
A Ilha de Lamu, conhecida pelas suas praias, pela história mercantil e pela sua cidade Património Mundial da UNESCO, tem conseguido evitar, até recentemente, grande parte da instabilidade que vem afetando o Quénia continental. No entanto, as rápidas mudanças sociais e económicas e uma insurgência ao longo da fronteira com a vizinha Somália estão a transbordar e a afetar a região. Apenas 21% das pessoas estão empregadas formalmente, e a ilha possui uma das mais baixas taxas de alfabetização do país. Apenas 13% de uma população de 115.000 pessoas tem formação secundária ou superior.
“Quando era criança, a comunidade era muito unida, as pessoas partilhavam tudo. Uma pessoa que trabalhasse conseguia sustentar toda a família”, diz o Vice-Governador de Lamu, Abulhakim Aboud Bwana. “Hoje, Lamu faz parte do mercado livre. O turismo, os manguezais, a pesca - estão todos em declínio e as únicas pessoas com segurança no emprego são as que têm um emprego formal, o que é raro. As pessoas estão assustadas. Sentem que foram deixadas para trás."
Os jovens estão particularmente vulneráveis às influências negativas e destrutivas que se tornaram uma séria ameaça à segurança regional.
"Sem educação e sem trabalho, o impacto na sociedade é o crime, o roubo e o abuso de drogas", diz Walid Ahmed, Diretor da Aliança da Juventude de Lamu. “Temos um problema com o uso de heroína. As mulheres são preparadas para casarem demasiado cedo para tentarem garantir o seu futuro. Os jovens simplesmente abandonam o sistema.”
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Criar Oportunidades para os Jovens no Norte do Quénia
Como resposta a estes desafios, e com o apoio da União Europeia, a Fundação Aga Khan está a trabalhar com a Islamic Relief Kenya e o recém-criado Conselho Nacional de Educação Nómada no Quénia para enfrentar a complexo espectro de problemas com que debatem os jovens dos condados de Lamu, Garrissa e Mandera.
Reconhecendo a necessidade da educação e formação, a Fundação está a trabalhar com as principais escolas e organizações de jovens para providenciar as competências que os jovens precisam para poderem aproveitar as oportunidades de emprego. A Fundação também está a trabalhar em estreita colaboração com empresas locais para garantir que os jovens estão prontos para o mercado de trabalho e com o governo local para garantir que os jovens têm a noção dos seus direitos.
O objetivo desta iniciativa passa por dar oportunidades a 16.000 jovens de ambos os sexos em situações de vulnerabilidade, entre os 15 e os 35 anos, que irão, por sua vez, apoiar mais de 25.000 familiares e a comunidade em geral.
A Fundação está a apoiar muitas organizações civis como estas para ajudar a orientar, formar e dar representação aos jovens do norte do Quénia. Estes grupos funcionam como plataformas através das quais os jovens podem aproveitar as oportunidades. Eles também ajudam os jovens a envolverem-se de forma construtiva com o governo local em questões de desenvolvimento local.
De forma surpreendente, estas organizações começaram a negociar programas de aprendizagem com grandes empresas do sector privado, como por exemplo grandes empresas de serviços públicos, assim como com empresas locais, tais como oficinas de carpintaria e salões de beleza.
Abood é um bom exemplo. Abood, outrora um jovem desocupado que ganhava a vida com os turistas no porto, ouviu falar de um curso na oficina de carpintaria de Maja Ali através da Aliança da Juventude de Lamu. Já se encontra a aprender o ofício há vários meses. "Um dia, quero montar o meu próprio negócio e dar emprego a jovens como eu", diz ele.
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A visão de longo prazo, de acordo com Atrash Ali Mohamed, Gestor da AKF para a Região Costeira, “é investir em 'superformadores' para melhorar a qualidade dos produtos, como o mobiliário, que irá ajudar estas empresas a crescer e ser capaz de contratar um maior número de jovens.”
O Salão de Beleza Mabruk é um exemplo de outra empresa identificada como tendo potencial. Com investimento financeiro para comprar mais equipamentos, em breve será possível contratar muitos mais estagiários. O seu proprietário, o jovem empreendedor Nuru Mohamed Obo, sente um forte sentido de responsabilidade cívica: “Há muitas raparigas em Lamu em casa sem competências e sem nada para fazer, gostaria de ajudá-las.”
Com o potencial existente para o regresso do turismo, também foi identificada a necessidade de formação para os serviços de táxi aquático. Os estagiários recebem uma licença oficial ao concluir um curso subsidiado que lhes permite prestar serviços de táxi aquático legalmente.
A AKF também trabalha com o Centro de Formação Profissional de Lamu. O investimento em equipamentos básicos, como materiais de costura, ferramentas de formação em eletrodomésticos, hardware de TI e equipamentos desportivos fez disparar o número de turmas de apenas uma mão cheia há um ano para um número superior a mil.
Foco no Fortalecimento da Sociedade Civil Local
A AKF tem uma parceria com o Ministério da Educação para integrar a educação baseada em valores nos currículos escolares, promovendo a tolerância, a paz e o pluralismo, para unir grupos díspares e construir um pilar contra ideologias extremistas. A AKF está comprometida em construir e fortalecer grupos cívicos, como a Aliança da Juventude de Lamu. A AKF orienta e apoia estes grupos para que cresçam e prosperem, para que possam continuar o seu trabalho importante e essencial durante muito tempo para lá da conclusão do programa.
Os grupos são formados em contabilidade, marketing, angariação de fundos e relações públicas, para que se tornem mais resilientes e sustentáveis e para que possam inclusive apoiar outros grupos cívicos.
Um Futuro Mais Auspicioso para os Jovens Quenianos
A região está numa encruzilhada. O investimento em organizações locais fortes da sociedade civil que promovam valores como a inclusão, tolerância e abertura é vital. Estas organizações são fundamentais para ajudar os jovens a percorrer a estrada acidentada por diante, e são um poderoso bastião contra aqueles que procuram dividi-los e prejudicá-los.
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Adaptado de um artigo escrito por Nicholas McGrath no site da Fundação Aga Khan do Reino Unido.