A educação universal e de qualidade no Afeganistão são algo frágeis. Em 2019, estima-se que 3,7 milhões entre 10 milhões de crianças não frequentaram a escola. Um estudo recente do Banco Mundial dá conta de que apenas dois terços dos estudantes afegãos no quarto ano possuem competências de primeiro ano ao nível da língua e menos de metade domina o currículo de matemática do primeiro ano.
É gritante a necessidade de uma recuperação.
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A pandemia da COVID-19 pôs em causa este compromisso.
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Por isso, foi criado o Projeto de Aprendizagem em Casa.
Em apenas duas semanas, os responsáveis pelos programas dos AKES, A definiram esquemas de autoaprendizagem para estudantes que incluíam recursos de leitura, folhas de cálculo, trabalhos e planos de estudo, e atividades domésticas para alunos do pré-escolar e para as suas famílias.
A ligação permanente entre professores e alunos foi fundamental para o sucesso do projeto. No Afeganistão, esta estabelece-se por telefone. A chamada telefónica de 15 a 30 minutos que os alunos recebem do seu professor todas as semanas inclui palavras de incentivo, apoio à aprendizagem, resolução de problemas, avaliação e fornecimento de informações.
Para tornar isto possível, os AKES, A estabeleceram uma parceria com a Roshan Telecommunications, uma empresa local, para financiar e distribuir 5350 cartões SIM por alunos e professores, com o intuito de permitir a comunicação regular com outros membros de “grupos fechados de utilizadores”.
Ramazan Khademi, gestor de programa nos AKES, A, descreve o Projeto de Aprendizagem em Casa: “A relevância do projeto reside na abordagem pedagógica adotada - nós invertemos a aprendizagem e o ensino. Os alunos terão uma maior responsabilidade pela sua aprendizagem, fazendo o que puderem de forma independente, para que, quando o professor lhes ligar para a sessão individual de tutoria, eles tenham tempo para fazer perguntas e desenvolver a sua compreensão acerca da matéria que estudaram em casa. Outra característica importante do projeto é a seleção cuidadosa de leituras contextualmente relevantes e alinhadas com o nível de conhecimentos de inglês de cada aluno - sendo ao mesmo tempo interessantes de ler. Os estudantes não irão apenas melhorar o seu inglês, como irão também experienciar a vida do ponto de vista de personagens de outras partes do mundo.”
Os líderes dos AKES, A são ambiciosos: planeiam chegar a mais de 6000 alunos com o Projeto de Aprendizagem em Casa, os cartões SIM e o acompanhamento por parte dos professores.
Para garantir o sucesso desta iniciativa, os professores e funcionários administrativos receberam formação através de cursos online e conversas telefónicas, tendo sido preparado um panfleto para ajudar os pais e os membros da comunidade a funcionarem como promotores e defensores da aprendizagem em casa, e desenvolvido um protocolo de chamadas telefónicas e uma tabela de expectativas de progressão dos alunos através dos módulos de aprendizagem baseados em planos de estudos pré-desenvolvidos.
Para além das aulas, estão também incluídas nos módulos de aprendizagem em casa importantes mensagens de higiene pessoal e proteção das crianças.
Desde o início de Maio, nas regiões de Baghlan, Badakhshan e Cabul, os funcionários da administração, respeitando os procedimentos de segurança, já começaram a inscrever os participantes e a distribuir os módulos de aprendizagem e os cartões SIM. Os professores também começaram o acompanhamento por telefone. Até à data, está registado um número impressionante de 2800 crianças e estudantes do ensino pré-primário, primário e secundário.
“Há três dias que estou a dar aulas por telefone. Os meus alunos gostam. O que realmente aprecio no Projeto é que posso enviar e receber perguntas por SMS”, disse Ali Murad Abid, professor de TIC.
Mesrinnoma Ulfat, professor de DPI, estava igualmente entusiasmado: “O nosso novo programa de aprendizagem em casa é ótimo. Neste programa, os professores podem ensinar e avaliar cada aluno individualmente. Estou a incentivar as crianças a tornarem-se mais responsáveis pela sua aprendizagem e a envolver também os pais na aprendizagem. Estou contente com este programa e acredito que é eficaz no desenvolvimento das crianças.”
Abdulrab Ahady, professor de ciências e matemática, reiterou: “Nesta situação, este Projeto é a melhor opção. Com 8000 minutos de chamadas telefónicas e 8000 SMS por mês, podemos ministrar de forma efetiva as aulas a distância. No entanto, temos de assegurar que existe um planeamento e acompanhamento adequados.”
Embora o Projeto de Aprendizagem em Casa e a sua abordagem sejam novos no Afeganistão, Hafizullah Momin, o Gestor Regional de Baghlan, considera que o projeto “está a ser implementado cuidadosamente com qualidade e irá funcionar bem”. Esta afirmação é apoiada pelo alto interesse já demonstrado pela comunidade e pelos alunos. Ewazullah Maliki, Gestor Regional de Cabul, concorda: “O Projeto parece bom a nível concetual e a receção por parte dos pais e alunos também tem sido muito boa nesta fase.”
O Projeto de Aprendizagem em Casa é uma ideia ambiciosa e não está isenta de desafios. A logística da distribuição, os problemas iniciais na criação dos grupos fechados de utilizadores e a gestão da aprendizagem em casas raramente configuradas para estudar vão levar algum tempo a serem trabalhados, mas os primeiros sinais mostram que os alunos e as suas famílias estão a aproveitar a oportunidade oferecida.
Sultan Sayeed Adeem, Gestor Regional de Badakhshan, resume esta iniciativa ao afirmar: “O compromisso e a participação da comunidade dão-nos esperança a todos de que o programa venha a ter sucesso no futuro e que acabe por ter um impacto positivo.”
Este artigo foi publicado pela primeira vez no site das Escolas Aga Khan.